Logística: Carga e descarga mal planejadas comprometem o transporte urbano
A rotina dos motoristas de veículos urbanos de carga (VUCs) nas cidades brasileiras é marcada por desafios que vão muito além do trânsito pesado. Em meio à correria das entregas, a operação de carga e descarga se tornou um ponto crítico que muitas vezes passa despercebido — mas tem impacto direto na produtividade e no bolso de quem vive do transporte.
Segundo Eros Viggiano, CEO e fundador da LogPyx, empresa especializada em soluções logísticas, a etapa de carga e descarga ainda é tratada com descuido por boa parte das empresas. “É comum vermos desperdício de tempo, riscos à segurança e custos desnecessários simplesmente por falta de planejamento”, afirma.
O problema começa nos pátios mal organizados, onde motoristas enfrentam filas demoradas, desinformação sobre horários e falta de estrutura adequada para estacionar ou manobrar. Um cenário que se repete em centros de distribuição, zonas de carga urbana e até em portos.
Nos grandes centros urbanos, a dificuldade de encontrar espaços adequados para estacionar e manobrar caminhões é diária. De acordo com levantamento da Confederação Nacional do Transporte (CNT), 51,6% das empresas de transporte relatam dificuldades logísticas nas cidades, com a ausência de infraestrutura para carga e descarga como principal entrave.
A consequência é mais tempo parado, maior desgaste dos veículos e aumento dos custos operacionais. A Lei 13.103/2015, conhecida como Lei do Motorista, impõe multa de até 5% sobre o valor da carga caso o tempo de espera ultrapasse cinco horas. Cada minuto perdido na fila representa custo. E esse custo muitas vezes recai sobre o transportador autônomo, que já enfrenta margens apertadas.
O executivo descreve que além dos atrasos, há riscos diretos à integridade das cargas. Segundo a ABRALOG, entre 1% e 2% das mercadorias transportadas nas rodovias brasileiras sofrem avarias, muitas delas durante o processo de carga e descarga. O problema se agrava com a falta de treinamento. É comum ver funcionários improvisados nessa função, sem o preparo necessário para movimentar cargas com segurança
Outra falha recorrente é a ausência de organização no agrupamento das cargas por tipo, volume e destino. Isso dificulta a roteirização, provoca retrabalho e amplia o tempo de permanência dos veículos nos pátios. Para o motorista de VUC, significa menos entregas no dia e perda de faturamento.
Apesar do cenário, há soluções disponíveis no mercado. O uso de sistemas como o Yard Management System (YMS) permite agendar docas com antecedência, visualizar a movimentação em tempo real e organizar filas por prioridade. Segundo Viggiano, a digitalização da operação evita improvisos e reduz o desperdício.
Essas tecnologias podem ser integradas a outros sistemas logísticos, criando um fluxo de informações que melhora a comunicação entre todos os envolvidos na cadeia. O resultado é mais agilidade, segurança e eficiência — benefícios que chegam diretamente ao transportador urbano.
Dessa forma, o que antes era um gargalo se torna diferencial competitivo. Em mercados cada vez mais pressionados por agilidade e precisão, profissionalizar a carga e descarga não é mais uma opção; tornou-se uma exigência estratégica. Ignorar esses problemas alimenta um ciclo vicioso de ineficiências. “Ainda há quem trate essa etapa como algo secundário, sem perceber que, na logística moderna, cada metro rodado e cada minuto parado têm um preço. E, frequentemente, um preço alto demais para continuar sendo pago”, conclui Viggiano.