Viajar de carro no fim do ano segue como uma prática comum no Brasil, impulsionada pelo recesso escolar, pelas festas de confraternização e pelo turismo interno. Esse movimento coincide com o período de maior fluxo nas rodovias concedidas, quando o volume de veículos cresce de forma significativa e impõe maior exigência aos automóveis em circulação.
Marcelo Martini, gerente de Vendas do Aftermarket da FUCHS, fabricante de lubrificantes alerta que dados recentes de concessionárias mostram que, nesse cenário, os problemas mecânicos continuam sendo a principal causa de paradas inesperadas durante as viagens.
Levantamento da Arteris aponta que, entre 20 de dezembro de 2024 e 5 de janeiro de 2025, cerca de 3,14 milhões de veículos circularam pelo trecho da Régis Bittencourt, enquanto a Arteris Litoral Sul registrou fluxo de 4,9 milhões de veículos no mesmo período. Nesse intervalo, os atendimentos prestados revelaram um padrão claro: a maioria das ocorrências esteve relacionada a falhas mecânicas, e não a acidentes.
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Na Régis Bittencourt, foram registrados 3.684 atendimentos, dos quais 3.035, o equivalente a 82%, envolveram problemas mecânicos. No trecho Litoral Sul, a proporção foi ainda maior: 4.254 dos 4.968 atendimentos, cerca de 86%, tiveram origem em falhas dos próprios veículos. Os números reforçam que panes previsíveis continuam liderando as interrupções involuntárias nas estradas durante os períodos de maior movimento.
O executivo analisa que esse quadro está diretamente ligado ao perfil da frota brasileira. Segundo dados do Sindipeças, a idade média dos veículos em circulação chegou a 10 anos e 11 meses em 2024, com automóveis superando 11 anos de uso em média e crescimento do número de unidades com mais de 16 anos. Em veículos mais antigos, o desgaste não está associado apenas à quilometragem, mas também ao tempo, já que mangueiras, correias, vedações, componentes elétricos e fluidos sofrem degradação química e térmica ao longo dos anos.
Durante o uso urbano cotidiano, muitos sinais de desgaste acabam sendo tolerados pelos motoristas, como ruídos ocasionais, vibrações leves ou consumo irregular de óleo. Em viagens longas, no entanto, essas margens de tolerância desaparecem. O veículo passa a operar por horas seguidas em regime severo, com carga elevada, temperatura ambiente alta e demanda constante de sistemas como freios, pneus, ar-condicionado e conjunto elétrico.
Entre as falhas mais comuns registradas em feriados prolongados, segundo o estudo do executivo da Fuchs, estão os pneus com desgaste próximo do limite ou calibragem inadequada, sistemas de freio sem manutenção recente, superaquecimento causado por problemas no arrefecimento, baterias no fim da vida útil e falhas associadas à lubrificação do motor. Esses itens fazem parte do conjunto de desgaste previsível e, na maioria dos casos, poderiam ser identificados em uma inspeção prévia.
No caso específico da lubrificação, o risco se intensifica em viagens rodoviárias. O óleo do motor tem papel central na redução de atrito, no controle térmico e na manutenção da limpeza interna do propulsor. Em uso contínuo e sob carga elevada, o óleo envelhecido oxida mais rapidamente, perde aditivos e pode ter sua viscosidade alterada, reduzindo a capacidade de formar a película protetora entre as peças móveis. Se o nível estiver baixo, a perda de pressão em situações de maior exigência pode resultar em danos internos ou até no travamento do motor.
A orientação técnica, de acordo com Marcelo, é respeitar os intervalos de troca definidos pelo fabricante, considerando tempo e quilometragem, além de utilizar a especificação correta indicada no manual do veículo. O mesmo critério vale para outros sistemas críticos, como arrefecimento e freios, que sofrem maior solicitação em trajetos longos e sob altas temperaturas.
A prevenção passa por um checklist básico, muitas vezes negligenciado. A revisão deve incluir conferência do óleo e do filtro, inspeção do sistema de arrefecimento, avaliação do estado dos freios, checagem detalhada dos pneus e do estepe, além de testes na bateria, no alternador e no sistema de iluminação. Limpadores de para-brisa também entram na lista, especialmente considerando as chuvas típicas do verão.
Os dados de rodovias, aliados ao envelhecimento da frota e ao padrão de uso intenso no fim do ano, mostram que as panes mecânicas seguem um comportamento previsível e, em grande parte, evitável. A revisão pré-viagem se consolida como uma medida prática para reduzir paradas inesperadas, minimizar riscos em trechos críticos e evitar custos adicionais quando o problema surge longe da base de manutenção.
