Coluna Fernando Calmon: Dia do Automóvel passou quase em branco no Brasil. Sem menor dúvida o automóvel está entre as paixões dos brasileiros e, por que não, também de boa parte das brasileiras. No mundo todo, aliás, com seus 1,3 bilhão de veículos leves em circulação a data se refere ao dia 13 de maio de 1886. Neste dia foi patenteado pelo alemão Karl Benz o primeiro automóvel “útil” do mundo, embora seu conterrâneo Gottlieb Daimler no mesmo ano e sem se conhecerem concluiu o que depois se conheceria como motocicleta.
Mesmo essa história de pioneirismo seja a mais aceita, há ainda referência ao “carro” a vapor do francês, Nicolas-Joseph Cugnot, em 1769. E também outros pioneiros como o também alemão Siegfried Marcus, em 1870, que já tinha um motor a combustão, mas se tratava apenas de uma simples plataforma de carga. Os franceses também reivindicam a invenção por meio de Édouard Delamare-Deboutteville, em 1884. Ele também patenteou seu modelo, mas nunca foi produzido ou vendido.
A relação do brasileiro com o carro apareceu de modo explícito em recente pesquisa da consultoria Ernest & Young, que entrevistou 15.000 pessoas em 20 países. Segundo a EY, 88% dos respondentes brasileiros têm preferência por um veículo pessoal ao se deslocar para escola ou trabalho contra 80% da média mundial. Somente 56% utilizariam transporte público, enquanto a média mundial é de 62%.
O Portal do Trânsito e Mobilidade, de Curitiba (PR), chegou a sugerir boas maneiras de comemorar o Dia do Automóvel por meio de uma relação singela de iniciativas:
- “Faça um passeio de carro por lugares especiais.
- Alugue um carro clássico por um dia para passear por sua cidade.
- Visite exposições ou eventos automobilísticos.
- Conheça o Museu do Automóvel da sua cidade ou visite uma que o tenha.
- Compartilhe sua paixão por carros nas redes sociais.
- Faça parte de um Clube do Automóvel.”
Embora a agitação moderna da vida em sociedade, turbinada ainda mais pelos automóveis, torne a maioria dos eventos desta relação difíceis de cumprir, não custa tentar. Deixar passar em branco não parece justo com um veículo que mudou a face do mundo. Ou, no mínimo, conte uma boa história até fim desta semana nas redes sociais.
Frota brasileira de veículos continua a envelhecer
O tradicional e respeitado estudo do Sindipeças apontou que em 2023 havia em circulação no Brasil 47.121.602 veículos leves e pesados, além de 13.261.784 motocicletas, totalizando 60.383.386 de unidades. O crescimento foi de apenas 0,5%, 1,7% e 0,8%, respectivamente.
Segundo o relatório, segue firmemente o processo de envelhecimento da frota brasileira. Em 2023, a idade média foi de 10 anos e 10 meses para autoveículos e 8 anos e 4 meses para motocicletas. Nos últimos 10 anos o desgaste da frota de autoveículos aumentou em mais de 2 anos. O que mais chamou atenção:
“Em relação a 2022, o movimento de queda na representatividade de veículos com menos idade, aqueles com até 5 anos (-4,3%) e de 6 a 10 anos (-8,3%), e o aumento dos veículos com maior idade, 11 a 15 anos (+ 5,6%) e 16 a 20 anos (+ 14,9%), compõem o envelhecimento.”
O Governo Federal planeja – e não vem de agora – mais uma tentativa de renovação de frota, em especial de veículos pesados que preocupam ainda mais tanto em termos de emissões quanto de segurança veicular. No entanto, como bem lembra o presidente da Fenabrave, José Maurício Andreta Jr., há uma barreira prática que não pode ser esquecida:
“Há 7.000 empresas recicladoras veiculares nos EUA. Nem todas são escrapeadoras. A maioria é desmanteladora (dá baixa, drena fluidos e desmonta os veículos). As maiores geralmente são trituradoras. No Brasil temos apenas cerca de 60 empresas trituradoras registradas na Senatran, porém apenas cerca de metade em operação.”
Com este cenário fica difícil acreditar, seriamente, em renovação de frota aqui.
Ferrari Roma Spider chega ao Brasil por R$ 3,95 milhões
Um conversível de dois lugares (tecnicamente um 2+2, mas na prática sem espaço traseiro) de rara beleza mesmo pelos altos padrões da marca Ferrari. Assim é o atraente Roma Spider, lançado em março de 2023 em substituição ao Ferrari Portofino. Além de praticamente em nada macular o belo estilo do cupê 2+2 original, a capota flexível pode ser rapidamente recolhida ou fechada em apenas 13,5 s a até 60 km/h. Entre as características marcantes está o opcional de aquecimento do pescoço do motorista e acompanhante para os dias mais frios.
A oferta do teto rebatível retorna após 54 anos desde o modelo 365 GTS4, de 1969. O motor central dianteiro é o mesmo do Roma cupê: V-8 biturbo de 3,9 litros, 620 cv (entre 5.750 e 7.500 rpm), 77,5 kgf·m (entre 3.000 e 5.750 rpm) com 80% do torque disponível a partir de apenas 1.900 rpm. O câmbio é automatizado de duas embreagens e oito marchas. Massa em ordem de marcha de 1.472 kg, nada menos de 200 kg inferior ao Portofino. Acelera de 0 a 100 km/h em 3,4 s, 0 a 200 km/h em 9,7 s. Freia de 100 km/h a zero em apenas 32 m.
O importador oficial Via Itália vendeu as primeiras 20 unidades que chegam ao País até o final deste ano por praticamente R$ 4 milhões cada.
Dolphin Mini tem bom preço e suspensão a melhorar
Embora os R$ 115.800 tenham extrapolado o que se se especulava, ainda assim é competitivo frente aos modelos com motor a combustão e outros elétricos. O Dolphin Mini (nome original, BYD Seagull, soa mal em português) oferece ótimo espaço para ombros, pernas e cabeças para quatro passageiros graças à generosa distância entre eixos de 2.500 mm e ao assoalho plano atrás. Sem previsão de versão de cinco lugares.
No uso urbano, destaque em todo carro elétrico, há alguns pontos negativos. Notei a falta do aviso sonoro aos pedestres, exagerado no Dolphin maior e inexistente no compacto. O motor dianteiro entrega limitados 75 cv e 13,8 kgf·m para uma massa total elevada de 1.239 kg, em razão da bateria. Mesmo que o torque surja de forma quase instantânea, não empolga. Faz falta o limpador do vidro traseiro.
A distância livre do solo de apenas 110 mm atrapalha ao “escalar” lombadas e “mergulhar” em valetas típicas de nossas ruas e até estradas. Os freios estão bem dimensionados, porém em comparação a carros convencionais as distâncias para a parada total são um pouco maiores. A dirigibilidade fica de certa forma comprometida pelo comportamento atípico das suspensões. Faltou o ajuste fino que a engenharia brasileira desenvolveu por décadas e hoje é referência mundial. Pneus 175/55 R16 não existem no Brasil. Se precisar trocar, só nas concessionárias da marca.
Desempenho e alcance no uso rodoviário são pontos fracos do carro. Ultrapassagens exigem mais atenção porque não há folga de potência. Porta-malas também impõe limites: mesmo sem estepe o volume alcança apenas 230 litros, mas parte disso é ocupado pelos cabos e plugues de recarga. O alcance ficou limitado a menos de 200 km nos trechos de autoestrada, em contraste ao uso urbano em que pode rodar cerca de 300 km facilmente.