Muito comum nos pneus novos, os chamados “cabelinhos” costumam ser interpretados por muitos consumidores como sinal de que o pneu é novo e de boa qualidade. No entanto, segundo a Dunlop, essa percepção não procede. Os filamentos de borracha são, na verdade, resquícios do processo de vulcanização e não representam nenhuma garantia extra ao usuário final.
A presença dos “cabelinhos” – tecnicamente conhecidos como spews – ocorre quando o pneu ainda em estado “verde” é pressionado contra o molde metálico durante a vulcanização, processo que envolve alta temperatura e pressão para dar a forma final ao produto. O molde possui pequenos orifícios de ventilação para a saída do ar, e uma pequena quantidade de borracha escapa por esses furos, formando os filamentos ao redor do pneu.
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Desde 2013, a Dunlop realiza a remoção sistemática desses filamentos como parte do seu controle de qualidade e política ambiental. A prática, segundo a empresa, tem justificativas técnicas e ambientais. A primeira delas está relacionada ao controle de qualidade: sensores de força radial e balanceamento dinâmico podem ser afetados pela presença dos filamentos, gerando variações nos resultados dos testes de desempenho.
Outro fator relevante é o conforto acústico. Os “cabelinhos” podem gerar ruídos e vibrações ao entrarem em contato com superfícies lisas, especialmente em velocidades mais altas. A remoção contribui para uma condução mais silenciosa desde o primeiro uso do pneu.
Do ponto de vista ambiental, o descarte desses resíduos também é tratado com atenção. A Dunlop alerta que os filamentos não removidos tendem a se desprender com o tempo e se tornam micropartículas de borracha. Essas partículas são levadas pela água da chuva para os sistemas de drenagem urbana, podendo alcançar rios e lagos. Uma vez no ambiente aquático, podem ser confundidas com alimento por organismos marinhos, afetando o sistema digestivo desses animais e contribuindo para a poluição invisível que ameaça os ecossistemas.
Alex Rodrigues, gerente de processos da Dunlop, destaca que, embora cada pneu libere uma quantidade mínima dessas partículas, o impacto cumulativo pode ser significativo. “Estamos falando de milhões de pneus em circulação no país, todos com potencial de gerar esse tipo de micropoluição se não houver cuidado durante a produção”, afirma.
A fabricante também adota práticas de economia circular para os resíduos removidos. Os filamentos recolhidos são reaproveitados por meio de coprocessamento e transformados em matérias-primas para outros setores. Os destinos incluem pisos industriais, gramados sintéticos, aditivos para asfalto e artefatos de borracha.
Ao destacar o cuidado com esse detalhe muitas vezes ignorado pelo consumidor, a empresa reforça que a qualidade de um pneu vai além do aspecto visual. A ausência dos “cabelinhos” não significa que o pneu foi usado, e sim que passou por um controle mais rigoroso e atende a exigências de sustentabilidade e desempenho.
Portanto, o verdadeiro indicativo de um pneu de qualidade está em fatores técnicos, como estabilidade, aderência, durabilidade e responsabilidade ambiental em sua fabricação – e não na presença de filamentos de borracha em sua superfície. A prática adotada pela Dunlop exemplifica como o setor automotivo pode incorporar inovação e compromisso ambiental nos mínimos detalhes da produção.