Distribuição: Entregas sustentáveis: como a eletrificação das frotas está transformando o varejo no Brasil
Por trás das entregas cada vez mais rápidas, silenciosas e eficientes nas grandes cidades brasileiras, existe uma revolução que muitos consumidores ainda não percebem, mas que já movimenta toda a estrutura logística do varejo. Trata-se da eletrificação das frotas, uma tendência que ganha força com metas ambientais mais exigentes, alta do diesel e uma nova geração de consumidores preocupados com a preservação do meio ambiente.
Quem confirma esse movimento é Lucas Zanon, CEO da EVolution Mobility, empresa especializada em soluções de eletrificação para frotas comerciais. Segundo ele, “a eletrificação deixou de ser uma aposta do futuro para se tornar uma decisão estratégica. Hoje, grandes redes de varejo já operam com 100% da última milha feita por veículos elétricos em determinadas regiões.”
Menos custo, mais eficiência
A decisão de eletrificar as frotas tem base em números sólidos. Zanon destaca que o custo por quilômetro rodado pode cair até 70% em comparação com veículos a combustão. “Além da economia com energia, a manutenção é infinitamente mais simples. Você elimina peças como escapamento, filtros de óleo e ar, velas, correias. O tempo de oficina diminui drasticamente”, afirma.
Para o varejo, essa redução significa mais veículos disponíveis nos momentos críticos, como datas promocionais ou picos sazonais. Isso garante maior previsibilidade e performance operacional.
Outro ponto que impulsiona o uso de caminhões e vans elétricas é o baixo ruído. “Com veículos silenciosos, é possível operar em horários noturnos ou em áreas residenciais sem incomodar a vizinhança. Isso dá mais liberdade para o planejamento logístico e melhora a experiência de entrega para o consumidor final”, explica o CEO.
A agilidade também se beneficia do torque instantâneo dos motores elétricos. “Os veículos saem rápido, mesmo carregados. Isso facilita manobras e acelera o ciclo de entregas em áreas urbanas congestionadas.”
Sustentabilidade como diferencial competitivo
A pressão por metas ESG (ambientais, sociais e de governança) também está acelerando o movimento. “Mais de 60% dos consumidores já preferem marcas que investem em práticas sustentáveis. A logística verde virou um diferencial competitivo no varejo”, afirma Zanon.
Além do marketing positivo, os ganhos ambientais são reais. Em média, um VUC elétrico reduz até 70% das emissões de CO₂ no ciclo de vida completo. Grandes redes que adotaram essa tecnologia já começam a reportar quedas significativas nas suas emissões anuais.
Tecnologia embarcada e manutenção preditiva
Os veículos elétricos vêm equipados com sistemas que monitoram em tempo real o estado da bateria, motor e outros componentes. Isso permite uma manutenção preditiva precisa. “O gestor sabe exatamente quando cada item precisa de atenção, evitando surpresas e falhas no meio da operação”, diz Zanon.
Essa inteligência embarcada aumenta a confiabilidade da frota e reduz paradas inesperadas, o que é vital em uma operação que depende de prazos apertados.
A falta de pontos de recarga, um dos maiores gargalos no início da eletrificação, começa a perder força. Hoje, redes varejistas estão investindo em carregadores próprios, instalados nos centros de distribuição e bases operacionais.
“É possível programar recargas noturnas, aproveitando tarifas de energia mais baixas. Além disso, as soluções inteligentes de gestão energética já permitem equilibrar consumo, tempo e disponibilidade dos veículos”, explica o CEO da EVolution Mobility.
Um mercado bilionário em expansão
Projeções do setor estimam que a mobilidade elétrica pode movimentar até US$ 65 bilhões por ano no Brasil até 2040. Com mais de 80% da população vivendo em áreas urbanas e o crescimento contínuo do e-commerce, a demanda por soluções de entrega limpas e eficientes tende a crescer exponencialmente.
“Esse é só o começo”, diz Lucas Zanon. “As empresas que começarem agora vão ganhar vantagem competitiva nos próximos anos. A eletrificação da frota não é mais uma tendência — é um passo lógico para qualquer operação logística moderna.”
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Dados da eletrificação de frotas: – Redução de até 70% nos custos com energia em relação ao diesel. – Diminuição de até 60% nos custos de manutenção. – Emissões de CO₂ reduzidas em até 70% no ciclo de vida. – Mais de 60% dos consumidores preferem marcas com práticas sustentáveis. – US$ 65 bilhões/ano é o potencial da mobilidade elétrica no Brasil até 2040. |
Como a mobilidade elétrica afeta os VUCs autônomos?
Ultimamente, o debate sobre a mobilidade elétrica tem ganhado força no Brasil. Muito se fala sobre carros de passeio e ônibus urbanos, mas um segmento estratégico para a logística urbana começa a entrar nesse novo ciclo: os Veículos Urbanos de Carga (VUCs). Esses veículos, essenciais para distribuição e entregas nas grandes cidades, podem passar por uma transformação profunda com a entrada dos modelos elétricos, influenciando diretamente o dia a dia dos motoristas autônomos e pequenas transportadoras.
Já sabemos que a transição energética nos centros urbanos é uma realidade. Cidades como São Paulo, Rio de Janeiro e Curitiba vêm adotando metas de redução de emissões e restringindo a circulação de veículos mais poluentes em zonas de alta densidade. Nesse contexto, os VUCs elétricos surgem como uma alternativa viável e cada vez mais necessária.
Cidades como São Paulo que impõem restrições para circulação de veículos a diesel em determinados horários e regiões, seria muito beneficiada. Com o tempo, essas regras devem se tornar mais rígidas, favorecendo quem investir em tecnologias limpas. Dessa forma, os VUCs elétricos, por não emitirem poluentes, têm liberdade de circulação em áreas com restrições ambientais e podem operar em horários ampliados, o que representa uma vantagem competitiva para o entregador.
Modelos elétricos que já circulam no Brasil
As montadoras já entraram na onda dos VUCs elétricos, com o intuito de oferecer opções mais sustentáveis e até rentáveis para o motorista transportador. Um dos pioneiros foi o JAC iEV1200T, caminhão leve 100% elétrico com capacidade de carga útil em torno de 1.200 kg. Voltado para entregas urbanas, o modelo já é utilizado por empresas como Coca-Cola, DHL e Mercado Livre.
Outro modelo que está em circulação e foi totalmente desenvolvido no Brasil é o Volkswagen e-Delivery, lançado em julho de 2021, após um extenso programa de testes iniciado em 2017, em que percorreu mais de 45.000 km em condições reais, especialmente em parceria com a Ambev em São Paulo.
Então, temos uma série de veículos urbanos leves, os VULs, ofertados pela Stellantis: Fiat e-Escudo; Citroen E-Jumpy e o Peugeot E-Expert. Compartilham da mesma plataforma modular de multienergia EMP2, que permitiu preservar o volume útil de carga da versão a combustão, uma vez que a bateria foi incorporada abaixo do assoalho do veículo, ou seja, evita qualquer comprometimento de espaço interno ou de carga.

Com bateria de 75 kWh e autonomia de até 330 km no ciclo urbano (INMETRO), utilizam motor elétrico de 136 cv e 26,5 kgfm de torque, oferece três modos de condução: Eco, Normal e Power, equilibrando eficiência e desempenho para o uso urbano. Compactos e silenciosos, rodam bem para entregas em centros urbanos, onde manobrabilidade e baixo nível de ruído são importantes.
Outro destaque é o volume de carga de 6,1 m³ de volume e capacidade para até 1 tonelada, com largura de 1,25 m entre as caixas de rodas, facilitando o transporte de paletes, enquanto a porta lateral deslizante e as traseiras com abertura de 180° tornam o manuseio mais prático. Além disso, sua altura de 1,94 m permite acesso a garagens com restrição de altura, garantindo mais eficiência nas entregas em grandes centros.
A Ford E-Transit também está no páreo, é uma van elétrica com opção de chassi-cabine. Equipada com uma bateria de 68 kWh, o modelo oferece autonomia de até 193 km no ciclo urbano, segundo o INMETRO — ideal para rotas de entregas e operações logísticas em grandes centros. A E-Transit Furgão tem capacidade de carga entre 800 kg e 1.000 kg, com volume útil variando de 9,5 m³ a 15,1 m³; já a E-Transit Chassi, suporta entre 1.300 kg e 2.100 kg de capacidade de carga, com Peso Bruto Total (PBT) de 3,5 ou 4,2 toneladas.
A Iveco e-Daily chega ao Brasil nas versões chassi cabine e furgão, com PBT entre 4,2 e 7,2 toneladas. Oferece tração traseira, baterias modulares com autonomia de até 300 km e motor elétrico com potência de 100 a 140 kW. Conta com três modos de condução (Natural, Power e Eco) e destaca-se pela conectividade via plataforma IVECO ON, que facilita a gestão de frotas.
Com uma opção ainda mais compacta, não vamos esquecer do Renault Kangoo E-tech, uma furgão elétrico, equipado com motor de 120 cv e bateria de 45 kWh. Dessa forma, oferece autonomia de até 329 km no ciclo urbano (INMETRO). Conta com espaço de carga de 4,3 m³, carga útil de 800 kg e capacidade de reboque de 1.500 kg. Entre os recursos, traz assistente de partida em rampa, controle de tração e estabilidade.
A Arrow Mobility, startup de Caxias do Sul (RS), já tem o modelo Arrow One, uma van 100% elétrica, que já circula em grandes cidades e integra a frota de e-commerces como o Mercado Livre. O veículo tem autonomia entre 200 km e 270 km por carga e capacidade para transportar até 2.000 kg em um compartimento de 16,5 m³, superando vans tradicionais.
O que muda para o motorista autônomo?
A primeira pergunta que o profissional autônomo faz diante de um VUC elétrico é: vale a pena o investimento? A resposta depende de vários fatores, mas há vantagens claras que podem fazer sentido a médio prazo.
Apesar do alto custo inicial — que pode ultrapassar os R$ 300 mil em alguns modelos —, os veículos elétricos têm um custo operacional muito mais baixo. O gasto com energia elétrica chega a ser até 70% menor que o com diesel ou gasolina. Além disso, o custo de manutenção é reduzido. Sem motor a combustão, não há troca de óleo, correias, filtros ou embreagem.
Para o motorista autônomo, cada hora a mais na rua representa potencial de ganho. Com um VUC elétrico, é possível trabalhar em horários fora do pico de restrição, inclusive durante a noite, quando o trânsito é mais leve e as entregas são mais rápidas. Esse fator pode compensar o investimento.
Desafios da transição: carregamento
Ainda há desafios a serem vencidos. A infraestrutura de recarga é um dos principais obstáculos, especialmente fora dos grandes centros. Embora existam redes de eletropostos em crescimento, o carregamento doméstico ou na base de operação ainda é o caminho mais viável para pequenos transportadores.
Além disso, o valor de aquisição continua sendo uma barreira de entrada para autônomos. No entanto, o mercado já começa a oferecer opções de leasing e locação de VUCs elétricos, o que pode facilitar a experimentação por parte dos profissionais sem a necessidade de compra imediata.
Outro ponto importante é a formação técnica: os motoristas precisam entender as diferenças operacionais do veículo elétrico, desde a regeneração de energia até o gerenciamento de autonomia e tempo de carga. Empresas têm investido em treinamentos e suporte técnico especializado para acelerar essa adaptação.
E aí, compensa investir num VUC elétrico?
🟢 VANTAGENS | 🔴 DESVANTAGENS |
Economia com combustível: Energia elétrica pode ser até 70% mais barata que diesel. | Alto custo inicial: Preço de compra ainda é alto comparado ao VUC a combustão. |
Baixa manutenção: Menos peças móveis e maior previsibilidade de manutenção. | Infraestrutura de recarga limitada: Poucos eletropostos em áreas menos urbanas. |
Circulação em áreas restritas: Permissão para rodar em zonas de restrição e em horários ampliados. | Tempo de recarga maior: Mesmo com carregador rápido, leva mais tempo que abastecer com diesel. |
Silencioso e mais confortável: Ideal para entregas noturnas e em centros urbanos. | Autonomia limitada: Varia entre 150 km e 300 km por carga, exigindo planejamento. |
Imagem sustentável: Pode abrir portas com empresas que exigem práticas ESG. | Falta de mão de obra especializada: Oficinas para manutenção elétrica ainda são raras. |
O que considerar antes de investir
Para o motorista autônomo, a decisão de investir em um VUC elétrico deve ser estratégica. É fundamental avaliar:
– Perfil de operação: o VUC elétrico é mais indicado para entregas urbanas com roteiros curtos e previsíveis.
– Infraestrutura: ter acesso a um ponto de recarga (em casa ou no local de trabalho) é quase indispensável.
– Financiamento: verificar linhas de crédito específicas pode tornar o investimento mais viável.
– Clientes potenciais: há demanda por serviços “verdes”? Se sim, o VUC elétrico pode ser um diferencial competitivo.
– Planejamento de rotas: é importante organizar rotas com base na autonomia máxima do veículo